No centro do Isolamento
Sábado, 13 de Maio de 2006
Foz
Findaram-se as correntes de mágoas vãs numa torrente ainda maior.
Findou-se o rio que desagua, secundário e afluente de um outro maior, num redemoinho submerso.
Findou-se o sofrimento e o prazer exposto, as palavras e a saliva gastas por uma erosão de egos insignificantes.
Morre a madeira e a coluna de água esquisita, horizontal, que passa desapercebida e se funde, que desaparece no nada, longe de vilas de ignorância em suas margens, fundida num corpo maior, despercebida e aglutinada, a banhar muralhas de cidades mais importantes.
Findou-se.
Sexta-feira, 14 de Abril de 2006
momentâneos
Falam-me nos epílogos e entrelinhas
Dos viveres e estados de alma
Da sedução dos sentimentos momentâneos
Que se findam precoces
Com o fim dos prazeres sucedâneos
Não se seguram em mim
Outros sentimentos que me renovem
Que mantenham alto e sustentado
Longe de um coração amordaçado
Preso entre a cela de ossos.
Salta antes e bate confuso
Entre sangue velho e renovado
Jorrando velhos e novos pecados
Entre mentiras meias e abuso
Na incerteza, abafado
Foto de Joel Santos
Sexta-feira, 24 de Março de 2006
Turvo
Já não escrevo em mim
Outras razões que não a mesma
Já nem sei se olho com a mesma clareza
Tão turvo que se tornou meu fim
Não penso sequer
Em passado nem futuro
Apenas num espelho baço
Vislumbre de claro e de escuro
Bailo antes contigo e em ti
Numa torrente de suor que inflama
Tua mente e a minha na ilusão louca
De palavras que de ti saem
E que tento calar com minha boca...
Domingo, 12 de Março de 2006
Turbilhão de nada
Vivem-se dias de confusão
Onde não há mundo que não se desfaça
Onde a certeza se constrói em solo movediço
E se vai perdendo afundada
Num endurecer de enguiço
Em todo um turbilhão de nada.
Assim se monta e desmonta
Um coração em mil andaimes
Seguro sobre uns e outros tantos
Fonemas e idiomas distantes
Perpetuando-se o teatro de desencantos
Em olhares que se procuram por instantes
Domingo, 26 de Fevereiro de 2006
iguarias
Mostraste-me, meu amor
O teu corpo em iguarias
Tantas como as vezes que me sorris.
No frio de uma noite que depressa finda
Enrodilhámos nossos corpos num desespero de despedida
E depressa se ergueu um Sol de espera
De dias infindáveis que vão para além do seu pôr
Para que a coberto de uma noite de cumplicidade
Te volte a olhar a alma, meu amor
Sábado, 18 de Fevereiro de 2006
A QUÍMICA E A FÍSICA DOS PENSAMENTOS
Assusta-me o bailar dos químicos
Das proteínas e dos átomos
Ácidos e anti-eméticos
Toda uma música de acaso.
Assustam-me os impulsos eléctricos
O fluxo de iões
Os abraços dos neurónios
As digitações dos axónios
Assustam-me as hormonas
E a corrente sanguínea
ASSUSTAM-ME A QUÍMICA E A FÍSICA DOS PENSAMENTOS
A biologia dos sentimentos
Tão diminuídos e ocasionais que são
Que nenhuma alma existe
Se não nas moléculas que falam à sorte
Quando se tocam por momentos
Segunda-feira, 6 de Fevereiro de 2006
Efémera
Apercebe-se intrigada
A mente
Da velocidade do passar do anos
Que tão rápida se torna
Que se me questiona
Se o tempo chega para deixar marcas.
Os homens sucedem-se intempestivos
Entre mortos e nascidos
Desde novos condenados
A um tempo a cada hora minguante
Que limita o abrir das asas.
E passa e se esgota o tempo
Sem eu ver nada de novo de mim em outros
Se não a escrita cutânea dos dias
Tão impiedosa quanto bela
E com ela efémera nos tornamos
Se nada cravarmos na mente dos homens...
Domingo, 29 de Janeiro de 2006
Excertos
"Desfaz-se a alma em migalhas do nada que sou
Do insignificante ser minguante
Que o amor me tornou"
24 De Maio de 2005 - Braga
Sábado, 21 de Janeiro de 2006
Sentenças...
Falam-me os dias sob a sombra de gigantes de nevoeiro
Dizem nada...
Adiam-se sonhos que se estreitam com as horas que me restam
Muitas certamente
Mas muitas também as que se perderam
.
Domingo, 15 de Janeiro de 2006
...
Perdi-me teimoso num mar de ilusão, mas hei-de descobrir-te de novo